Angelina Jolie em entrevista a revista Época
A atriz diz como cria seis filhos, pilota aviões e namora Brad Pitt sem medo de ser espionada
A vida de mãe de uma fotogênica prole de seis filhos que tem como companheiro um galã de Hollywood (Brad Pitt), sabe pilotar aviões e desempenha o papel de agente humanitária ofusca a carreira de atriz de Angelina Jolie. Não à toa. Deslumbrante numa saia preta Dolce & Gabbana e jaqueta cinza de strass, Angelina, de 35 anos, se prontifica a opinar sobre tudo, dos presentes que vai comprar para os filhos no Natal a críticas ao ensino público americano, passando pelo site WikiLeaks, de Julian Assange. Mas seu novo filme, O turista, no qual interpreta uma misteriosa inglesa que seduz um professor de matemática (Johnny Depp) em uma viagem a Veneza, rendeu-lhe sua sexta indicação para o Globo de Ouro nesta semana.
ÉPOCA – As últimas fotos de paparazzi, antes de você chegar a Nova York para promover o filme O Turista, mostram você fazendo compras em Paris com seus filhos.
Angelina Jolie – (risos) - Meu filho de sete anos (Pax) fez aniversário enquanto eu promovia O Turista para a imprensa europeia em Paris. Saímos para comprar presentes para ele, e também comprei algumas coisas para o Natal. Adoro fazer compras de Natal. Sou dessas mães obcecadas por colocar presentes dentro de uma meia (risos).
ÉPOCA – O que falta comprar em sua lista de natal?
Angelina – Muitas coisas. Minha principal preocupação é a de que todos meus filhos recebam um número igual de presentes. Meu filho de nove (Maddox) está mais interessado em receber ouro virtual para ele usar no game World of Warcraft (risos). Meu filho de dois (Knox Léon) quer coisas de montar da Lego. Leva um pouco de tempo para montar toda a lista deles. (risos)
ÉPOCA – Qual seria uma perfeita viagem turística para você?
Angelina – Qualquer lugar que eu não tenha visitado ainda, e que minha família pudesse ficar por um bom tempo. Nós adoramos safáris, de ficarmos em tendas. Nós adoramos a Ásia, mas nunca exploramos a China, que é um lugar que está na minha lista de prioridades. China, e também a América do Sul. Qualquer lugar novo, que não só fosse paradisíaco, mas que nos oferecesse também algum tipo de aventura física. Com tantos filhos, é legal fazer uma aventura.
ÉPOCA – Falando em América do Sul. O Brasil faria parte de sua rota de prioridades?
Angelina – Claro, em algum momento nós teremos que visitar o Brasil. Existe um projeto de filme no Brasil que o Brad está contemplando há algum tempo. A coisa sobre viajar com minha família, é que nós realmente esperamos criar nossas crianças ao redor do mundo. Se existe um projeto de filme que ambos gostamos, é claro que isso torna as viagens ainda mais apetitosas para a gente.
ÉPOCA – Existe algum lugar do mundo que você possa ir, sem ser reconhecida?
Angelina – Claro. Mas têm lugares que eu vou, sou reconhecida, mas o diferencial é que as pessoas não se importam (risos). Isso é muito legal. O máximo de bajulação é: “você é uma artista! Legal”.
ÉPOCA – Você deu uma entrevista na semana passada dizendo que precisou ter aulas de boas maneiras para fazer o filme O Turista.
Angelina – Sim. Quando fiz o The Good Shephard, com o Robert De Niro, tive algumas aulas de etiqueta para capturar o comportamento das mulheres americanas nos anos 50. Em O Turista, eu disse ao Florian (o diretor), que seria legal ter aulas de etiqueta, pois estaria interpretando uma europeia refinada. Não queria soar falsa. Sendo americana, eu ando e gesticulo diferente.
ÉPOCA – Então não era nada de você literalmente aprender boas maneiras?
Angelina – (risos). Não, se bem que eu acho que poderia melhorar minhas boas maneiras em vários sentidos (risos). Minha personagem no filme tem um ritmo diferente, ela gosta de viver de sofisticação. Nós, mulheres modernas e trabalhadoras, temos muitas coisas para fazer durante o dia, e não temos tempo para diminuir o ritmo ou o passo, colocar uma luva devagarinho, ou parar para tomar um chá no meio da tarde (risos). Às vezes diminuir o ritmo faz nós mulheres sentirmos um pouco esquisitas por um momento, mas depois vemos que existe uma beleza em podermos tirar um tempinho para nós, para respirar um pouco.
ÉPOCA – Em uma das cenas de sedução do filme, o personagem de Johnny Depp pergunta se você gostaria de jantar com ele. Sua personagem retruca, dizendo que mulheres não gostam de perguntas, mas sim de uma sutil afirmação de comando. Você se identifica com isso?
Angelina – Não gosto de ter ninguém me falando o que tenho que fazer (risos). Mas gosto de pessoas com opiniões fortes, que chegam para mim e falam o que sentem. É sempre bom ouvir de uma pessoa que tem paixão por determinado assunto chegar para você e dizer o que é importante para ela. Nesse sentido, não sou contra ninguém tentar sobrepujar-me uma opinião.
ÉPOCA – Aqui estou sentado com você, e existe essa qualidade de estrela de cinema, mas ao mesmo tempo um lado desarmante, sem assessora de imprensa para censurar nada, sem bajulação de uma entourage. Você se vê como uma pessoa normal?
Angelina – Em muitos e muitos aspectos sou uma pessoa totalmente normal, simples. Em primeiro lugar, sou mãe de seis filhos. Como não ser pé no chão? Acordo toda manhã e sei que, cuidar da saúde deles, da felicidade deles, será o trabalho mais importante do dia. E isso é o que realmente importa para mim. Mas é claro que também sou capaz de expor um lado totalmente irreverente e meio selvagem. Claro, absolutamente! (risos)
ÉPOCA – Você se acha bonita?
Angelina – Eu acho que me sinto bonita, isso é diferente. Não sou narcisista fazendo beleza ser meu foco de atenção. Acho que me sinto dessa maneira porque o Brad me faz sentir bonita. Minha mãe dizia que eu me parecia fisicamente com ela, e agora eu vejo que sou parecida com minha filha. Isso é bonito. Estou na casa dos 30 anos, e me sinto mais mulher, mais madura, essas coisas me fazem me sentir mais bonita.
ÉPOCA – Você faz ioga, musculação?
Angelina – Você pode não acreditar, mas eu nunca fiz ioga. Sou péssima em exercícios, academia. Deveria pensar mais nisso, pois estou ficando mais velha e sei que ioga é ótimo para a flexibilidade do corpo. Mas em minha vida, no momento, não existe tempo livre para me exercitar.
ÉPOCA – Com uma prole de seis, quantas horas de sono você tem por noite?
Angelina – Não tenho muito, mas afortunadamente não preciso de muitas horas de sono para me sentir energizada. Costumava sofrer de insônia quando era mais jovem. Agora, com um punhado de filhos, vejo isso como um bônus (risos).
ÉPOCA – O público tem essa percepção de que você é uma espécie de mulher-maravilha: mãe de seis filhos que, de repente, aparece ao lado de refugiados no Paquistão, três dias depois, está rodando seu primeiro filme em Budapeste, e, no final de semana, aparece deslumbrante em algum evento de cinema.
Angelina – Sempre respondo com uma certa surpresa à pergunta: como é que você pode fazer todas essas coisas: Mas toda mulher é assim. Nós somos multifacetadas. De um lado tem esse nosso aspecto extremamente acalentador e, de outro lado, tem esse aspecto privado, entre portas fechadas (risos). E as mulheres, quando confrontadas com temas sociais e políticos urgentes, se tornam extremamente conscientes do mundo ao redor delas, e querem ajudar de alguma forma. Então, não existe nada de exótico no que faço. Penso que sou parecida com um bocado de mulheres por ai.
ÉPOCA – Outra imagem que as pessoas fazem de você: a atriz mais esperta de Hollywood.
Angelina – Esse é um elogio que vou aceitar (risos). Obrigada. Acredito que sou esperta o suficiente para saber que tenho muito o que aprender. Então sei que, se passar parte do meu dia tentando aprender certas coisas sobre a criação de meus filhos, serei uma mãe melhor. Se educar mais sobre as causas globais, sei que poderei ajudar sobre certos assuntos. Existe um básico que você precisa aprender para fazer a coisa certa. Certamente, considero-me muito mais sábia hoje do que 10 anos atrás.
ÉPOCA – À propósito, como você vive ao lado de tantos diplomatas em suas viagens pelo mundo, o que você achou do caso WikiLeaks?
Angelina – Esse é o tipo de pergunta que não tem uma resposta segura para se dar (risos). Acho que a maioria das pessoas ainda não entendeu completamente a dimensão da coisa.
ÉPOCA – Mas vamos supor que, um desses documentos que vazaram na rede, tivesse informações tiradas de uma discussão particular sua com um diplomata internacional. O que você sentiria ao ver esse teor da discussão se tornar público?
Angelina – Mas eu não tenho nada para esconder. Na verdade, acho que ficaria um pouco orgulhosa que algumas de minhas conversas particulares com diplomatas se tornassem públicas, pois eu tendo a ser bastante combativa quando entre quatro paredes, tentando expor minha opinião sobre algo que eu acredito.
ÉPOCA – Com todas essas viagens internacionais que faz, como você lida com a educação de seus filhos?
Angelina – Gostaria que existisse um livro que ensinasse cada pai como navegar por entre o sistema escolar e como traçar um método que atenda o melhor dos interesses e aptidões de cada criança, e que as ajudassem a entender coisas tão diversas como cultura, religião e política. Acho que existe uma urgência de se modernizar o sistema escolar. Estou cada dia mais envolvida com isso, principalmente ao viajar para diferentes países s ver o método de ensino de cada um. Quando eu viajo para outro país por um longo período, quero é que meus filhos visitem museus, tenham tempo de aprender a tocar a guitarra, e leiam um livro no período vespertino. Luto para descobrir um novo jeito de desenvolver coisas mais diretamente para nossas crianças. Considerando o montante de informação que temos a nossa disposição hoje, considerando a internet, o montante de livros disponíveis na internet ou em novas tecnologias, eu acho que deveria existir um novo método de explorar o ensino, mas infelizmente nosso sistema educacional ainda não acompanhou as mudanças geopolíticas e tecnológicas. No papel de mãe, é minha obrigação pensar um jeito de chacoalhar as coisas e fazer o ensino melhor.
ÉPOCA – Seus filhos vão à escola ou eles têm tutores?
Angelina – Ambas as coisas. Quando rodei um filme na França, alguns deles foram à escola. Em Nova York, Praga e Veneza, onde trabalhei por último, sempre tivemos professores de diversas nacionalidades em nossa casa. Pax tem um professor que ensina vietnamita para ele todos os dias. E temos também professores da África para a Zahara. É como se tivéssemos construindo um time ao redor da gente, para poder enriquecer culturalmente os nossos filhos, a partir de cada lugar de origem deles, mas seguindo um currículo escolar normal e sistemático, com deveres de casa e tudo mais.
ÉPOCA – Você aprende outras linguás também?
Angelina – Eu tento. Por causa de minha mãe ter nascido na França, sempre tive aulas de francês. Mas Maddox, que frequenta o Liceu Francês, já me dá um banho em francês. Ele oficialmente me deixou para trás (risos). Mas tenho que ter desafios, se não nada funciona comigo. Prometi ao Maddox que iria aprender a pilotar um avião. E, em um ano, eu aprendi. (risos). Agora acho que estou devendo a ele o fato de falar francês fluentemente, para exercitar a língua com ele. Esse é meu desafio para o próximo ano.
ÉPOCA – Com seus filhos expostos a todo esse tipo de educação, como fica o ensino de religião para eles?
Angelina – Minha mãe era católica. Ela era uma mulher maravilhosa e nunca disse que eu deveria seguir essa ou aquela religião. E isso me fez tornar em uma pessoa extremamente curiosa a respeito de outras religiões. Com meus filhos vindo de culturas diferentes, peguei essa mania de estudar as mais variadas religiões com eles. Quando estou em determinado país, nós saímos para visitar uma igreja ou um templo local, e aprender uma coisa diferente. Sempre explico a eles, que isso é o que aquelas pessoas acreditam, e tento ensinar um pouco a elas sobre o que é a fé daquelas pessoas.
ÉPOCA – E onde você se encaixa nisso tudo: Você se considera uma pessoa espiritual?
Angelina – Certamente eu tenho uma espiritualidade muito latente. Uma vez alguém me disse que achava que eu era humanista. Pensei muito nisso, mas eu acho que o que significava ser humanista é que eu vejo, por meio dos meus filhos e dos refugiados que encontro, que é possivel conviver junto sem machucar ninguém, sem ferir ninguém, e o mais sensato a se fazer é darmos o melhor da gente. Mais uma vez cito minha mãe nessa conversa. Ela era uma mulher muito graciosa e bondosa. Minha mãe não se comportava assim por causa de uma religião, ou por causa de estar embutido no subconsciente dela, via algum livro sagrado ou sermão, que ela iria para o inferno caso não fizesse o bem. Minha mãe era uma pessoa de boa índole, apenas porque ela queria sê-lo, isso a fazia se sentir melhor sobre si mesma.
ÉPOCA – Você citou que aprendeu a voar. O que é fascinante sobre pilotar um avião?
Angelina – Mas você não gostaria de pilotar um avião também? (risos).
ÉPOCA – Claro, mas sob o efeito de alguns tranquilizantes.
Angelina – (risos) Lembro de meu primeiro voo solo. Achei que poderia sentir esse medo, pois você nunca realmente sabe o que pode a vir te assustar nessa vida. Acho que voar para mim representa a liberdade. Sempre quis aprender a pilotar, sempre adorei aviões e sempre amava observar os pássaros quando criança (risos).
ÉPOCA – Brad Pitt adora pilotar motos. Você compartilha do mesmo hobby?
Angelina – Sim, às vezes piloto minha motocicleta. Tenho uma MV Augusta. Mas não sou tão boa motoqueira quanto o Brad.
ÉPOCA – Você acabou de rodar um filme como diretora. Fale um pouco dessa experiência.
Angelina – Aprendi muito. Na verdade, agora acho que preferia ser apenas diretora, em vez de atriz (risos). Trabalhei com tantos bons atores e atrizes neste filme, e poder observá-los trabalhando, sob o ponto de vista de dar uma direção a eles, de tentar criar a luz certa, de tentar criar um posicionamento para enriquecer a performance deles, e capturar um momento tão único da emoção deles, me deu um enorme prazer.
ÉPOCA – Muitas celebridades tentam copiar suas tatuagens em sânscrito agora. E alguns tiveram erros de ortografia!
Angelina – (risos). Cada um é cada um. Tenho duas tatuagens em sânscrito, representando cada filho que adotei na Ásia, e refletindo a cultura deles. Minhas tatuagens foram feitas em estilo tribal, por um cara treinado por monges e abençoado por monges. Não é que fui a um tatuador local. Era uma tatuagem muito específica que poucas pessoas tem naquela região, e que funcionam como uma oração para eles manterem sua família segura. Quando vi o tamanho da agulha (abre os braços), fiquei nervosa por um momento (risos). Mas não doeu (risos).
ÉPOCA – Como você esconde todas essas tatuagens em filmes?
Angelina – Fácil, fácil. Eles veem e te pintam. Eles colocam um pedaço de papel com um buraco em cima da tatuagem e jogam o spray. Faz um barulho como shuuuuuuu shuuuuuuuu, e pronto! (risos)
Fonte: Revista Época
A vida de mãe de uma fotogênica prole de seis filhos que tem como companheiro um galã de Hollywood (Brad Pitt), sabe pilotar aviões e desempenha o papel de agente humanitária ofusca a carreira de atriz de Angelina Jolie. Não à toa. Deslumbrante numa saia preta Dolce & Gabbana e jaqueta cinza de strass, Angelina, de 35 anos, se prontifica a opinar sobre tudo, dos presentes que vai comprar para os filhos no Natal a críticas ao ensino público americano, passando pelo site WikiLeaks, de Julian Assange. Mas seu novo filme, O turista, no qual interpreta uma misteriosa inglesa que seduz um professor de matemática (Johnny Depp) em uma viagem a Veneza, rendeu-lhe sua sexta indicação para o Globo de Ouro nesta semana.
ÉPOCA – As últimas fotos de paparazzi, antes de você chegar a Nova York para promover o filme O Turista, mostram você fazendo compras em Paris com seus filhos.
Angelina Jolie – (risos) - Meu filho de sete anos (Pax) fez aniversário enquanto eu promovia O Turista para a imprensa europeia em Paris. Saímos para comprar presentes para ele, e também comprei algumas coisas para o Natal. Adoro fazer compras de Natal. Sou dessas mães obcecadas por colocar presentes dentro de uma meia (risos).
ÉPOCA – O que falta comprar em sua lista de natal?
Angelina – Muitas coisas. Minha principal preocupação é a de que todos meus filhos recebam um número igual de presentes. Meu filho de nove (Maddox) está mais interessado em receber ouro virtual para ele usar no game World of Warcraft (risos). Meu filho de dois (Knox Léon) quer coisas de montar da Lego. Leva um pouco de tempo para montar toda a lista deles. (risos)
ÉPOCA – Qual seria uma perfeita viagem turística para você?
Angelina – Qualquer lugar que eu não tenha visitado ainda, e que minha família pudesse ficar por um bom tempo. Nós adoramos safáris, de ficarmos em tendas. Nós adoramos a Ásia, mas nunca exploramos a China, que é um lugar que está na minha lista de prioridades. China, e também a América do Sul. Qualquer lugar novo, que não só fosse paradisíaco, mas que nos oferecesse também algum tipo de aventura física. Com tantos filhos, é legal fazer uma aventura.
ÉPOCA – Falando em América do Sul. O Brasil faria parte de sua rota de prioridades?
Angelina – Claro, em algum momento nós teremos que visitar o Brasil. Existe um projeto de filme no Brasil que o Brad está contemplando há algum tempo. A coisa sobre viajar com minha família, é que nós realmente esperamos criar nossas crianças ao redor do mundo. Se existe um projeto de filme que ambos gostamos, é claro que isso torna as viagens ainda mais apetitosas para a gente.
ÉPOCA – Existe algum lugar do mundo que você possa ir, sem ser reconhecida?
Angelina – Claro. Mas têm lugares que eu vou, sou reconhecida, mas o diferencial é que as pessoas não se importam (risos). Isso é muito legal. O máximo de bajulação é: “você é uma artista! Legal”.
ÉPOCA – Você deu uma entrevista na semana passada dizendo que precisou ter aulas de boas maneiras para fazer o filme O Turista.
Angelina – Sim. Quando fiz o The Good Shephard, com o Robert De Niro, tive algumas aulas de etiqueta para capturar o comportamento das mulheres americanas nos anos 50. Em O Turista, eu disse ao Florian (o diretor), que seria legal ter aulas de etiqueta, pois estaria interpretando uma europeia refinada. Não queria soar falsa. Sendo americana, eu ando e gesticulo diferente.
ÉPOCA – Então não era nada de você literalmente aprender boas maneiras?
Angelina – (risos). Não, se bem que eu acho que poderia melhorar minhas boas maneiras em vários sentidos (risos). Minha personagem no filme tem um ritmo diferente, ela gosta de viver de sofisticação. Nós, mulheres modernas e trabalhadoras, temos muitas coisas para fazer durante o dia, e não temos tempo para diminuir o ritmo ou o passo, colocar uma luva devagarinho, ou parar para tomar um chá no meio da tarde (risos). Às vezes diminuir o ritmo faz nós mulheres sentirmos um pouco esquisitas por um momento, mas depois vemos que existe uma beleza em podermos tirar um tempinho para nós, para respirar um pouco.
ÉPOCA – Em uma das cenas de sedução do filme, o personagem de Johnny Depp pergunta se você gostaria de jantar com ele. Sua personagem retruca, dizendo que mulheres não gostam de perguntas, mas sim de uma sutil afirmação de comando. Você se identifica com isso?
Angelina – Não gosto de ter ninguém me falando o que tenho que fazer (risos). Mas gosto de pessoas com opiniões fortes, que chegam para mim e falam o que sentem. É sempre bom ouvir de uma pessoa que tem paixão por determinado assunto chegar para você e dizer o que é importante para ela. Nesse sentido, não sou contra ninguém tentar sobrepujar-me uma opinião.
ÉPOCA – Aqui estou sentado com você, e existe essa qualidade de estrela de cinema, mas ao mesmo tempo um lado desarmante, sem assessora de imprensa para censurar nada, sem bajulação de uma entourage. Você se vê como uma pessoa normal?
Angelina – Em muitos e muitos aspectos sou uma pessoa totalmente normal, simples. Em primeiro lugar, sou mãe de seis filhos. Como não ser pé no chão? Acordo toda manhã e sei que, cuidar da saúde deles, da felicidade deles, será o trabalho mais importante do dia. E isso é o que realmente importa para mim. Mas é claro que também sou capaz de expor um lado totalmente irreverente e meio selvagem. Claro, absolutamente! (risos)
ÉPOCA – Você se acha bonita?
Angelina – Eu acho que me sinto bonita, isso é diferente. Não sou narcisista fazendo beleza ser meu foco de atenção. Acho que me sinto dessa maneira porque o Brad me faz sentir bonita. Minha mãe dizia que eu me parecia fisicamente com ela, e agora eu vejo que sou parecida com minha filha. Isso é bonito. Estou na casa dos 30 anos, e me sinto mais mulher, mais madura, essas coisas me fazem me sentir mais bonita.
ÉPOCA – Você faz ioga, musculação?
Angelina – Você pode não acreditar, mas eu nunca fiz ioga. Sou péssima em exercícios, academia. Deveria pensar mais nisso, pois estou ficando mais velha e sei que ioga é ótimo para a flexibilidade do corpo. Mas em minha vida, no momento, não existe tempo livre para me exercitar.
ÉPOCA – Com uma prole de seis, quantas horas de sono você tem por noite?
Angelina – Não tenho muito, mas afortunadamente não preciso de muitas horas de sono para me sentir energizada. Costumava sofrer de insônia quando era mais jovem. Agora, com um punhado de filhos, vejo isso como um bônus (risos).
ÉPOCA – O público tem essa percepção de que você é uma espécie de mulher-maravilha: mãe de seis filhos que, de repente, aparece ao lado de refugiados no Paquistão, três dias depois, está rodando seu primeiro filme em Budapeste, e, no final de semana, aparece deslumbrante em algum evento de cinema.
Angelina – Sempre respondo com uma certa surpresa à pergunta: como é que você pode fazer todas essas coisas: Mas toda mulher é assim. Nós somos multifacetadas. De um lado tem esse nosso aspecto extremamente acalentador e, de outro lado, tem esse aspecto privado, entre portas fechadas (risos). E as mulheres, quando confrontadas com temas sociais e políticos urgentes, se tornam extremamente conscientes do mundo ao redor delas, e querem ajudar de alguma forma. Então, não existe nada de exótico no que faço. Penso que sou parecida com um bocado de mulheres por ai.
ÉPOCA – Outra imagem que as pessoas fazem de você: a atriz mais esperta de Hollywood.
Angelina – Esse é um elogio que vou aceitar (risos). Obrigada. Acredito que sou esperta o suficiente para saber que tenho muito o que aprender. Então sei que, se passar parte do meu dia tentando aprender certas coisas sobre a criação de meus filhos, serei uma mãe melhor. Se educar mais sobre as causas globais, sei que poderei ajudar sobre certos assuntos. Existe um básico que você precisa aprender para fazer a coisa certa. Certamente, considero-me muito mais sábia hoje do que 10 anos atrás.
ÉPOCA – À propósito, como você vive ao lado de tantos diplomatas em suas viagens pelo mundo, o que você achou do caso WikiLeaks?
Angelina – Esse é o tipo de pergunta que não tem uma resposta segura para se dar (risos). Acho que a maioria das pessoas ainda não entendeu completamente a dimensão da coisa.
ÉPOCA – Mas vamos supor que, um desses documentos que vazaram na rede, tivesse informações tiradas de uma discussão particular sua com um diplomata internacional. O que você sentiria ao ver esse teor da discussão se tornar público?
Angelina – Mas eu não tenho nada para esconder. Na verdade, acho que ficaria um pouco orgulhosa que algumas de minhas conversas particulares com diplomatas se tornassem públicas, pois eu tendo a ser bastante combativa quando entre quatro paredes, tentando expor minha opinião sobre algo que eu acredito.
ÉPOCA – Com todas essas viagens internacionais que faz, como você lida com a educação de seus filhos?
Angelina – Gostaria que existisse um livro que ensinasse cada pai como navegar por entre o sistema escolar e como traçar um método que atenda o melhor dos interesses e aptidões de cada criança, e que as ajudassem a entender coisas tão diversas como cultura, religião e política. Acho que existe uma urgência de se modernizar o sistema escolar. Estou cada dia mais envolvida com isso, principalmente ao viajar para diferentes países s ver o método de ensino de cada um. Quando eu viajo para outro país por um longo período, quero é que meus filhos visitem museus, tenham tempo de aprender a tocar a guitarra, e leiam um livro no período vespertino. Luto para descobrir um novo jeito de desenvolver coisas mais diretamente para nossas crianças. Considerando o montante de informação que temos a nossa disposição hoje, considerando a internet, o montante de livros disponíveis na internet ou em novas tecnologias, eu acho que deveria existir um novo método de explorar o ensino, mas infelizmente nosso sistema educacional ainda não acompanhou as mudanças geopolíticas e tecnológicas. No papel de mãe, é minha obrigação pensar um jeito de chacoalhar as coisas e fazer o ensino melhor.
ÉPOCA – Seus filhos vão à escola ou eles têm tutores?
Angelina – Ambas as coisas. Quando rodei um filme na França, alguns deles foram à escola. Em Nova York, Praga e Veneza, onde trabalhei por último, sempre tivemos professores de diversas nacionalidades em nossa casa. Pax tem um professor que ensina vietnamita para ele todos os dias. E temos também professores da África para a Zahara. É como se tivéssemos construindo um time ao redor da gente, para poder enriquecer culturalmente os nossos filhos, a partir de cada lugar de origem deles, mas seguindo um currículo escolar normal e sistemático, com deveres de casa e tudo mais.
ÉPOCA – Você aprende outras linguás também?
Angelina – Eu tento. Por causa de minha mãe ter nascido na França, sempre tive aulas de francês. Mas Maddox, que frequenta o Liceu Francês, já me dá um banho em francês. Ele oficialmente me deixou para trás (risos). Mas tenho que ter desafios, se não nada funciona comigo. Prometi ao Maddox que iria aprender a pilotar um avião. E, em um ano, eu aprendi. (risos). Agora acho que estou devendo a ele o fato de falar francês fluentemente, para exercitar a língua com ele. Esse é meu desafio para o próximo ano.
ÉPOCA – Com seus filhos expostos a todo esse tipo de educação, como fica o ensino de religião para eles?
Angelina – Minha mãe era católica. Ela era uma mulher maravilhosa e nunca disse que eu deveria seguir essa ou aquela religião. E isso me fez tornar em uma pessoa extremamente curiosa a respeito de outras religiões. Com meus filhos vindo de culturas diferentes, peguei essa mania de estudar as mais variadas religiões com eles. Quando estou em determinado país, nós saímos para visitar uma igreja ou um templo local, e aprender uma coisa diferente. Sempre explico a eles, que isso é o que aquelas pessoas acreditam, e tento ensinar um pouco a elas sobre o que é a fé daquelas pessoas.
ÉPOCA – E onde você se encaixa nisso tudo: Você se considera uma pessoa espiritual?
Angelina – Certamente eu tenho uma espiritualidade muito latente. Uma vez alguém me disse que achava que eu era humanista. Pensei muito nisso, mas eu acho que o que significava ser humanista é que eu vejo, por meio dos meus filhos e dos refugiados que encontro, que é possivel conviver junto sem machucar ninguém, sem ferir ninguém, e o mais sensato a se fazer é darmos o melhor da gente. Mais uma vez cito minha mãe nessa conversa. Ela era uma mulher muito graciosa e bondosa. Minha mãe não se comportava assim por causa de uma religião, ou por causa de estar embutido no subconsciente dela, via algum livro sagrado ou sermão, que ela iria para o inferno caso não fizesse o bem. Minha mãe era uma pessoa de boa índole, apenas porque ela queria sê-lo, isso a fazia se sentir melhor sobre si mesma.
ÉPOCA – Você citou que aprendeu a voar. O que é fascinante sobre pilotar um avião?
Angelina – Mas você não gostaria de pilotar um avião também? (risos).
ÉPOCA – Claro, mas sob o efeito de alguns tranquilizantes.
Angelina – (risos) Lembro de meu primeiro voo solo. Achei que poderia sentir esse medo, pois você nunca realmente sabe o que pode a vir te assustar nessa vida. Acho que voar para mim representa a liberdade. Sempre quis aprender a pilotar, sempre adorei aviões e sempre amava observar os pássaros quando criança (risos).
ÉPOCA – Brad Pitt adora pilotar motos. Você compartilha do mesmo hobby?
Angelina – Sim, às vezes piloto minha motocicleta. Tenho uma MV Augusta. Mas não sou tão boa motoqueira quanto o Brad.
ÉPOCA – Você acabou de rodar um filme como diretora. Fale um pouco dessa experiência.
Angelina – Aprendi muito. Na verdade, agora acho que preferia ser apenas diretora, em vez de atriz (risos). Trabalhei com tantos bons atores e atrizes neste filme, e poder observá-los trabalhando, sob o ponto de vista de dar uma direção a eles, de tentar criar a luz certa, de tentar criar um posicionamento para enriquecer a performance deles, e capturar um momento tão único da emoção deles, me deu um enorme prazer.
ÉPOCA – Muitas celebridades tentam copiar suas tatuagens em sânscrito agora. E alguns tiveram erros de ortografia!
Angelina – (risos). Cada um é cada um. Tenho duas tatuagens em sânscrito, representando cada filho que adotei na Ásia, e refletindo a cultura deles. Minhas tatuagens foram feitas em estilo tribal, por um cara treinado por monges e abençoado por monges. Não é que fui a um tatuador local. Era uma tatuagem muito específica que poucas pessoas tem naquela região, e que funcionam como uma oração para eles manterem sua família segura. Quando vi o tamanho da agulha (abre os braços), fiquei nervosa por um momento (risos). Mas não doeu (risos).
ÉPOCA – Como você esconde todas essas tatuagens em filmes?
Angelina – Fácil, fácil. Eles veem e te pintam. Eles colocam um pedaço de papel com um buraco em cima da tatuagem e jogam o spray. Faz um barulho como shuuuuuuu shuuuuuuuu, e pronto! (risos)
Fonte: Revista Época
Comentários
Nossa! ela é muito inteligente!
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