Angelina Jolie em conferencia de imprensa em Berlim

Filas, tumulto e empurra-empurra. Poderia ser mais uma das estréias de gala da Berlinale. Mas a situação ocorreu na conferência de imprensa do filme In the Land of Blood and Honey (Na Terra de Sangue e Mel, em tradução livre), que tem como diretora uma das atrizes mais hypadas da atualidade. Hoje à noite (11), Angelina Jolie apresenta seu longa, seguido de uma discussão com o público presente no Haus der Berlinale Festspiele.

In the Land of Blood and Honey - uma complexa história de amor entre a artista bósnio-muçulmana Ajla (Zana Marjanović) e o soldado bósnio-sérvio Danijel (Goran Kostić) em meio ao conflito na Bósnia nos anos 1990 - retrata pesadamente uma tragédia relativamente recente, mas pouco divulgada pela mídia internacional. A suposta falta de interesse em um dos piores conflitos na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, foi o principal motivo para Angelina criar o roteiro e assumir a direção.

"Eu tinha 17 anos quando ocorreu a guerra. E como a maioria dos americanos, eu soube muito pouco sobre o assunto. Por isso, surgiu-me a necessidade de me educar. Eu precisava saber sobre essa guerra que pertence à minha geração. Quanto mais eu lia e aprendia, me dava conta da importância de mostrar o que aconteceu. Por isso, eu espero que o filme realmente fale com as pessoas."

Desde os primeiros rumores sobre o filme, ainda em 2010, todas as atenções se voltaram para o desempenho de Angelina como diretora e o resultado da obra. Até agora, as opiniões são diversas. Entretanto, a idéia de selecionar um elenco completamente local (todos vêm da região de Sarajevo), que direta e indiretamente vivenciaram os conflitos na década de 1990, rendeu atuações sinceras e profundas.

Emocionados, os atores contaram como foi atuar em um filme tão próximo às suas realidades do passado e, ao mesmo tempo, como foi ter Angelina Jolie como mentora e chefe. Todos contaram que foi difícil de acreditar, ainda nas audições, que Angelina estava por trás do roteiro. E, de acordo com os relatos, ela realizou a tarefa com muito sucesso.

"A parte mais difícil do filme foi todo o filme. Tive que fazer com paixão. Não houve nenhum momento, nenhuma cena que eu achei fácil, ou que eu já estivesse suficientemente preparado, ainda mais vindo de Sarajevo, onde eu nasci e cresci. Tive que dar tudo de mim, meu sangue, e temia não ser o suficiente. Mas Angelina e Zana sempre reafirmaram que o meu melhor já era o suficiente", contou o protagonista Goran Kostić.

Já a atriz Zana Marjanović orgulha-se por ter a chance de contribuir na projeção global de uma tragédia que ocorreu no seu próprio país. "Estou muito feliz por estar aqui. Graças à Angelina Jolie, fizemos um filme que realmente importa. Por morar em Sarajevo com mulheres vitimas de guerra, vejo que dia após dia muitas dessas historias estão sendo esquecidas. Por isso é muito importante para mim poder representar essas mulheres. E eu espero que eu tenha feito um bom trabalho".

Além do conflito armado, o filme aborda a violência contra a mulher durante a guerra. Cenas de estupro e outras formas extremas de agressão trazem à tona um problema que geralmente é ofuscado por bombardeios e pelos números de soldados mortos.

"Quando se faz um filme de guerra, sempre surge a questão sobre o quanto deve ser mostrado. O que se vê no filme é só uma parte. Nas estimativas da ONU, 50.000 mulheres foram estupradas, quando na realidade, uma mulher estuprada já é muito. Não há como recriar tudo. E filme de guerra tem de ser difícil de assistir mesmo, porque a realidade também foi assim. Eu não mostrei tudo que eu pude, especialmente em relação às crianças, porque eu também sou mãe e isso foi muito difícil".

Questionada sobre as críticas sobre o filme, entre elas, que ele poderia servir como o ponto de vista das Nações Unidas (ONU), Angelina foi dura ao afirmar que ele deve ser julgado por cada pessoa que o assistir, evitando dar detalhes sobre assumir algum lado no conflito, ou apontar quem está certo ou errado.

"Isso não é um documentário, é uma interpretação artística. Espero que mais filmes explorem outras partes dessa história. Pois, de fato, existem muitas histórias pra contar e várias maneiras para mostrá-las. Eu faço o melhor que posso. Vou envelhecendo, me educando sobre o mundo e vendo que eu ainda tenho muito que aprender. Viajei durante 10 anos, vi muita coisa, e fico feliz de poder mostrar pra vocês um tema que realmente importa".

Nos últimos dois anos, Angelina dedicou-se exclusivamente ao filme e acredita ser difícil conciliar seus compromissos com assuntos que "não importam", como seus filmes de ação. Se depender da nova diretora e roteirista, vai ser difícil ficar longe desse novo ofício: "achamos diferentes maneiras para fazer aquilo que realmente importa, mas não é fácil. Não tenho atuado mais. Estou procurando um filme da Disney para encontrar um balanço (risos), fazer algo para as crianças. De todas as coisas que eu fiz até agora, esse foi o trabalho mais importante. Vai ser difícil conseguir fazer algo diferente depois disso".

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