Angelina Jolie em entrevista a Marie Claire francesa

 
 
 
 
 
Angelina Jolie: Super Mulher!

Duas espécies de dividir a humanidade. A primeiro te recebe, lhe oferecendo algo para beber. A segunda, não. Angelina Jolie está preocupada se estamos com sede, ou com frio. Porque os americanos tem o curioso hábito de ligar o ar condicionado no máximo, dando uma pequena sensação de ter a Groenlândia na Califórnia. A atriz nos concedeu o privilegio excepcional a uma entrevista de quase uma hora quando promovia "Unbroken", seu segundo filme como diretor em Los Angeles. "Porque Marie Claire vale a pena", foi sua explicação ao desligar o ar condicionado e caminhar para abrir as amplas janelas que revelaram um lindo céu azul e grandes palmeiras. Porque vale muito a pena, ao dizer isso parecia bem óbvio que ela sabia que estaria presente na edição histórica da revista (que sairá em janeiro e será especialmente dedicado a ela e ao tão aguardado filme "Unbroken"). Angelina Jolie simboliza para nós, muito mais do que uma estrela de cinema comprometida. Ela é uma mulher guerreira e suave, ultra-determinada. Com um altruísmo absoluto. Uma mulher poderosa juntamente com uma mulher honesta. Um exemplo a seguir.

Por que você decidiu nos dar mais tempo do que o esperado?

Eu amo o conceito da Marie Claire, uma mistura de artigos extremamente interessante, esta é uma ótima revista!

Nós celebramos o nosso sexagésimo aniversário e temos perguntado para diversas personalidades o seguinte: De acordo com o que pensa, o que você acha que faz uma mulher poderosa?

Uma mulher honesta.

Você deixou uma impressão forte em junho, em Londres, durante a cúpula dedicada a luta contra a violência sexual. Isso trouxe alguma mudança nas coisas?

Sim, mais eu não sei se foi por minha causa. Já tinha havido uma promessa de tomar medidas mais fortes contra o estupro de guerra na última cúpula do G8. Muitos países fizeram disso um dos seus compromissos prioritários, todos nós devemos trabalhar juntos, legisladores, políticos, médicos, investigadores, para permitir a perseguição imediata contra os culpados de crimes de guerra.

Muitas coisas mudaram, finalmente, em um sentido prático?

Sim, absolutamente. A coisa mais importante é detectar e rastrear os autores de violações em massa em lugares como no Congo, no norte da Nigéria e em outros países. As equipes estão trabalhando duro e se dedicando a este assunto. Todas as manhãs, eu recebo um relatório atualizado sobre os casos de abusos sexuais contra as mulheres em vinte países. E sobre o andamento das atividades realizadas. Constantemente eu penso nessa luta para reverter o avanço no numero de vitimas.

Você não fica deprimida de manhã lendo estas listas de horrores?

Provavelmente, só que não mais do que aqueles que leem jornais ou assistir notícias na TV. O que eu posso dizer é que isso vai que melhorar. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, há mais pessoas deslocadas no mundo. 51 milhões, sem contar as vítimas das recentes atrocidades no Iraque. Numa escala dessas que aumenta mais a cada dia, o numero deve ter passado já dos 52 milhões de pessoas. Com tudo o que tem acontecido no mundo chegamos a um ponto critico. Necessidades humanitárias estão crescendo, isso não pode continuar por mais tempo.

E como agir de forma mais concreta?

Devemos nos preocupar mais do que nunca com as leis e ordem onde existe conflitos. É necessário colocar pressão sobre os criminosos de guerra, e fazer de tudo para leva-los à justiça. Por isso é necessário ajudar os governos dos países que possuem estruturas adequadas para identificar e neutralizar assassinos em massa, ajudando-os a criar estruturas de provas legais. Temos de aprender a ser menos egoísta e trabalhar um pouco mais em colaboração com os demais. Estou determinada a ver mais consciência e isso é um progresso.

Isso é suficiente?

Não, provavelmente não. Durante doze anos, tenho trabalhado na área humanitária, e eu vejo que continuamos a ser muito cauteloso com o direito legal e moral de interferência. Nós gastamos muito tempo tentando equilibrar a diferença de "sensibilidade" das culturas, nos questionando se teremos que tomar medidas adequadas com base na estrutura moral de que temos apenas que confiar no campo jurídico legal para mudar as coisas.

Você defende o direito de intervenção (um conceito controverso)?

Olha, não podemos simplesmente denunciar o fato de que muitas meninas não tem acesso a escola. Temos de impor essa obrigação de direito delas de ir a escola em qualquer lugar do mundo. Parte da Carta da ONU diz que a não inscrição de meninas é um crime sujeito a processo e até mesmo prisão, se assim necessário. Se você se casar com uma jovem contra a sua vontade, isso é o estupro,  que não pode ser indefinidamente considerado uma questão que vai de acordo com os costumes da tribo. É hora de agir! Não podemos mais ser neutros ou entrar em uma macia e confortável área cinzenta de crítica mornas. Você tem que ver as coisas em preto e branco. Temos de aplicar as leis universais em todo mundo. Obter as normas legais para todos. Para que não exista mais padrões duplos!

As mulheres obviamente estão na linha de frente...

Sim, claro, e é por isso que é necessário, ao mesmo tempo criminalizar essas questões sexuais e educar os homens, sejam pais, irmãos ou filhos. Colocá-los na frente de suas responsabilidades, explicando-lhes que não respeitar tais normas é uma infração à lei. E assim proteger aqueles que lutam para mudar atitudes, muitas vezes arriscando suas vidas. Existe, felizmente, mais e mais pessoas com boa vontade em todo o mundo, e isso é uma coisa reconfortante.

O Secretário de Estado John Kerry, bem como os representantes dos 140 países, calorosamente aplaudiram você no final da cúpula sobre violência sexual. Eles irão apoiar a sua vontade de estabelecer leis universais para as mulheres? Como?

Acredito que sim. Eles estão determinados a fazer a diferença. Eles poderiam, por exemplo, dar ajuda aos demais países a mudar o estatuto e as condições das mulheres.

Ouvindo você hoje, me vem uma questão: Você é tentada a entrar na política para impulsionar o nível real de mudança?

Eu não acho que minha família iria concorda com isso. E eu não sei como posso ser mais eficaz neste momento porque a minha posição como figura pública me ajuda muito na mídia a criar consciência sobre as minhas lutas.

Mais afinal você pensa sobre isso?

Eu realmente não sei o que vai acontecer amanhã ... Eu nunca pensei que um dia iria fazer um discurso para muitos líderes políticos. Mais eu sempre soube que queria seria útil. Gostaria de fazer coisas para ajudar os outros. Portanto, não é um não definitivo.

Qual foi a primeira coisa que te deixou indignada?

Quando estive pela primeira vez no Camboja para uma gravação, e tive consciência do Khmer Vermelho. Você não consegue imaginar o estado deste país, com milhares de refugiados em acampamentos, órfãos, veteranos de guerra deficientes, minas em todos os lugares, e a morte tão perto, com enormes valas comuns... Isso ajudou significativamente a aumentar minha consciência. Pouco depois, vi imagens horríveis sobre o que estava acontecendo em Serra Leoa, então entrei em contato com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, que me enviou para lá como embaixadora. E pude ver as atrocidades brutais cometidas contra civis. Eu jurei a mim mesma pensar todos os dias naquilo que tinha visto. Depois disso eu não poderia mais me imaginar vivendo sem fazer nada.

Foi sua mãe que influenciou seus conceitos éticos e morais?

Sem dúvida. Minha mãe era objetiva, e um doce de pessoa, mais seria capaz de mover montanhas por seus filhos. Isso é algo que eu sempre admirei em mulheres: essa mistura de suavidade e força. Ela era meio índia, e me lembro de quando era pequena, ela me levou para um jantar oferecido pela Anistia Internacional. Ela sempre quis tentar entender a complexidade do mundo. Ela tinha um grande coração e ficou sensibilizada pela violência do mundo. Ela rezava pela paz e não conseguia suportar toda essa violência.

Você acredita em vida após a morte? De quem você se sente mais próxima?

Eu não sei se acredito em vida após a morte. Me sinto em contato com minha mãe quando olho para meus filhos. Então eu posso sentir a influencia dela em mim. Vejo que a maneira que crio meus filhos era semelhante a que ela criou meu irmão e eu. Isto é mais evidente na minha relação com minhas filhas Shiloh e Vivienne. Então, sim, a minha mãe me influenciou em todos os momentos. Eu não sei se nós vamos para algum outro lugar depois que partimos, mas o que tenho certeza são as influências que cada um de nós tem sobre o destino do mundo e que a corrente humana que existe entre passado, presente e futuro continuar viva, dando um espécie de eternidade para a humanidade.

É sua relação com seu pai ainda complicada?

Não é que é complicada, é que realmente ela nunca existiu. Ele praticamente não me criou. E é um pouco tarde agora para fazer algo profundo.

E Brad está bem?

Ele está muito bem e obrigada por perguntar sobre ele (Risos). Ele está fazendo um curso de francês enquanto nós conversamos. Ele trabalha duro. E é por isso que eu vou dirigir ele no meu próximo filme, que deve se passar na França, mais que por razões diversas, iremos gravar em Malta. Iremos interpretar um casal americano no sul da França, que sem dúvida, irá lembrar algo.

A vida no sul da França é tranquila e relaxada? Ou é o mesmo que viver nos Estados Unidos?

Exatamente o mesmo. Você sabe, eu não sou muito boa em relaxar. Eu sempre quero estar fazendo algo. Eu não consigo ficar parada. Eu leio, eu escrevo, eu negocio filmes, eu fico no computador. Não, realmente, eu não sou muito boa em relaxar. Miraval é um lugar perfeito para umas férias românticas para nós, mais também é perfeito porque está próximo, por exemplo de cidades europeias, da África, do Oriente Médio e todos os países que eu preciso visitar quando estou a serviço da ONU. L. A. é realmente muito longe de tudo.

Você é coberta de tatuagens. Se você fosse fazer uma nova, o que seria?

Se eu tivesse que fazer uma nova, com certeza já estaria na minha pele (Risos). Eu não tenho nenhum desejo no momento, mas pode ter certeza que em breve irei fazer uma nova! Provavelmente alguma inscrição em japonês.

Eu posso ver uma inscrição em seu antebraço. O que isso significa?

Esta é uma citação do grande místico persa Rumi, que influenciou o Sufismo. Significa "força e vontade."

Um objeto ou algo que poderia mudar o mundo?

O Tribunal Penal Internacional. Será que vai mudar.

Você sabe que eu fui advertida: nada de perguntas sobre sua dupla mastectomia. Por quê?

Porque eu já disse tudo o que podia sobre isso. O que eu posso dizer é que não me arrependo da minha escolha, muito pelo contrário. E eu interajo muito com mulheres que me pedem conselhos.

Em seu primeiro filme, houve um momento extraordinário quando os protagonistas que são amantes e inimigos visitam um museu em ruínas. E ao deixarem o lugar estão satisfeito em paz. Poderia a arte salvar o mundo?

Absolutamente. Estou convencida de que a arte pode nos trazer para mais perto uns dos outros. Independentemente das formas que assume - reflexões ou distrações - a arte força as pessoas a pensar, a falar e compartilhar.

Você é indestrutível?

Eu espero que sim. Pelo menos por enquanto (risos).

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