Angelina Jolie fala sobre a proteção das abelhas em entrevista a revista Elle
Atriz, diretora, produtora, roteirista, ativista de longa data, Angelina Jolie também é a madrinha do programa empresárial e ambiental lançado pela Guerlain em parceria com a Unesco "Mulheres pelas Abelhas", no Camboja, um páis que está proximo de seu coração, a abelha Jolie estará cuidando do treinamento de doze mulheres para se tornarem apicultoras. Uma iniciativa que está londe de ser açucarada!
SEXTA-FEIRA 18H, UM DIA DE ABRIL: Angelina Jolie aparece na tela do meu computador. Não, não estou assistindo "Eternos" no Disney+ ou "Aqueles Que Me Desejam a Morte" no HBOMax e não estou alucinanda. Ela está lá, via Zoom, sorrindo, mal maquiada, sua pele perfeita, seus longos cabelos soltos estão caidos no rosto. Há interação, pois ela começa a responder à minha primeira pergunta. Existe até uma forma de cumplicidade, entre mulheres, entre mães, que rapidamente se instala. Jolie tem o dom de fazer você sentir que pertence à mesma comunidade. Bem, quase, exceto por algumas diferenças, das quais ela está bem ciente. E é disso que se trata este encontro virtual: discutir sobre esse maravilhoso grupo de mulheres treinando para se tornarem apicultoras, resultando em maior autonomia, benefícios econômicos individuais e locais e um impacto ambiental positivo para todos, incluindo as abelhas.
Angelina Jolie é uma mulher de convicção e ação que vem usando sua fama mundial há anos a serviço de causas humanitárias, ambientais e feministas, com uma visão real do mundo e uma empatia sincera pelos outros. Por quase vinte anos, esta mãe de seis filhos (três dos quais foram adotados) trabalha no Camboja com sua fundação MJP (Maddox Jolie-Pitt), contribuindo para o alívio da extrema pobreza rural, proteção ambiental e conservação da vida selvagem. O MJP também apoia programas de saúde, educação, agricultura e empoderamento das mulheres.
Para completar, Jolie também é Enviada Especial da ONU: “Estou fazendo muito do meu trabalho como Enviada Especial, especialmente com a crise na Ucrânia e em outras partes do mundo e tenho trabalhado em Washington D.C. na Lei de Violência Contra a Mulher", acrescenta.Com 69 filmes em seu curriculum, mal falamos sobre os próximos projetos de filmes: "Não tenho planos para este ano. Posso fazer um filme chamado "Without Blood", de Alessandro Baricco, um maravilhoso escritor italiano. É sobre pessoas em um situação de pós-conflito de uma guerra civil, trauma e a condição humana". Um tema adequado para Jolie, como foi "Primeiro eles mataram meu pai" (2017) ou "Na Terra do Amor e Ódio" (2012).
Hoje, a musa Guerlain (cujo símbolo é a abelha imperial desde 1853), é a orgulhosa madrinha do programa "Mulheres pelas abelhas" que continua no Camboja, depois de uma primeira fase na França, em 2021. Este ano, 12 mulheres serão treinadas em Siem Reap (Distrito de Samlot) e em Tonle Sap, uma biosfera da UNESCO no Parque Arqueológico de Angkor. Essas mulheres, empresárias, aprenderão sobre a criação e gestão de um sistema apícola sustentável. Mas também, a importância das abelhas em seu ambiente e na cultura Khmer, além de debates com Angelina Jolie sobre compromisso, solidariedade feminina, empatia e abelhas, tão trabalhadoras quanto... Jolie!
ELLE: Você passou 20 anos trabalhando na crise dos refugiados e questões de conservação, fundou várias escolas para meninas e sua própria fundação no Camboja, MJP... Em outras palavras, você é "super ativa". O que desencadeou esse enorme compromisso?
ANGELINA JOLIE: Se você tiver a oportunidade de conhecer as pessoas que eu conheço, globalmente, especialmente as pessoas que foram deslocadas por conflitos e passaram por coisas extremas, você terá a sorte de se conectar profundamente com a condição humana através desses sobreviventes e famílias maravilhosas. Então, isso se torna uma honra e uma felicidade, poder fazer qualquer coisa para servir e ajudar. Trabalhei com escolas para meninas no Afeganistão, bem como em outras partes do mundo e no Camboja por cerca de vinte anos com todas as pessoas maravilhosas de Samlaut. Eles têm uma equipe totalmente local, o que é muito importante para mim - administrado localmente, e então... é um prazer.
ELLE: Houve um ponto de partida que fez você refletir sobre o estado da humanidade e se tornar tão empática com os outros? Algo em seu passado?
A.J: (rindo baixinho) Parece que todos deveríamos ter este grande momento... São muitas coisas, assim como é para muitas pessoas, são muitas camadas que moldam a mulher que nos tornamos. É claro que eu tive uma mãe muito atenciosa que foi um ser humano muito compassivo e bondoso que me ensinou muito e me deu o exemplo. Então, eu pude viajar e conhecer pessoas. Para mim, o Camboja foi um dos lugares que teve um grande impacto, porque foi a primeira vez que conheci pessoas que tinham sido refugiadas e que estavam em situação de pós-conflito, retornando às áreas de minas terrestres. E assim, pude compreender o ciclo não só do conflito em si, mas dos anos como refugiados, e o campo e depois o retorno a uma área que ainda era afetada pela guerra. Hoje essa mesma área que foi desminada, se tornou minha casa e de minha família, e temos nosso projeto. Trabalhamos com milhares de pessoas. E assim, você vê estes ciclos. E depois, é claro, me tornei mãe. Quando você se torna mãe, você acorda todos os dias com um pouco mais de consciência, porque sua vida pertence a outra pessoa. Na verdade, há muitas pessoas compassivas, você não precisa ser mãe, mas há uma consciência adicional após se tornar uma!
ELLE: Você continua a ser madrinha da iniciativa "Women for Bees" liderada pela Guerlain e colaboração com a UNESCO e com a MJP, a sua fundação. Qual é o seu objetivo e missão?
A.J: Tem algumas missões realistas. Para mim, o problema é que muitas vezes falamos em visões muito amplas sobre salvar o mundo. E falamos sobre todos os polinizadores do mundo e como eles estão morrendo e como são importantes. O importante sobre esta iniciativa é que há ciência muito real para isso: como estudar, proteger e entender as diferentes abelhas, espécies de abelhas e melhores práticas. Há também a compreensão e o respeito pelo patrimônio cultural, pelos diferentes países do mundo que possuem formas muito particulares de apicultura que precisam ser preservadas. E também no centro disso está o treinamento, as habilidades e a capacidade das mulheres de serem elas mesmas empreendedoras e sobreviverem. Quando você mistura a ciência e a sobrevivência das espécies com a comunidade e as famílias sendo capazes de prosperar e sobreviver, então você junta as peças e é isso que este projeto faz. Capacitará mulheres e oferecerá proteção e conscientização para diferentes causas. Espera-se que isso também faça com que essas comunidades tenham um potencial de crescimento econômico. Quando uma mulher tem um emprego, ela também fica mais protegida, e muitas outras coisas se seguem.
ELLE: E essas mulheres, "designers de mudança", vão adquirir conhecimento e transmiti-lo a outras pessoas?
A.J: Absolutamente e sabemos que isso é um fato. Tem sido estudado e acompanhado, que quando as mulheres recebem certas habilidades ou mesmo comida, seja o que for que uma mulher receba, ela tende a compartilhar isso. Você pode mapear como isso se multiplica.
ELLE: Você sente que as mulheres desempenham um papel fundamental em nossa sociedade?
A. J: Com certeza. E é triste que tenhamos que admitir isso, mas não é algo compreendido ou respeitado. Há mulheres no Afeganistão que ainda lutam para ter uma educação além do sexta ano e tantas outras injustiças contra as mulheres em todo o mundo. E fica ainda mais chocante, a medida que você lê mais sobre isso - eu estudei isso por anos, mas todos os dias eu sinto que leio algo novo, e continuo me chocando com o tratamento e a injustiça e a falta de responsabilidade por crimes contra as mulheres.
ELLE: Podemos aprender com o passado?
A.J: Somos capazes de aprender com o passado, mas também de repetir os erros com muita frequência, em algumas áreas, estamos retrocedendo quando deveríamos estar seguindo em frente. O que estamos vendo, o que me dá esperança, é que quando as mulheres se reúnem, se levantam e trabalham juntas, elas ganham um pouco mais de voz, um pouco mais de presença, um pouco mais de poder e posição. Esta é uma das coisas mais bonitas que estamos vendo com esta iniciativa. Eu estava com as mulheres na França quando elas estavam fazendo seu treinamento (no ano passado, nas colinas de Sainte-Baume da Provença) e depois eu estava com uma das apicultoras, Aggelina Kanellopoulou, que veio trabalhar com as mulheres do Camboja. Eu assisti elas começarem a trabalhar juntas e vi que essa irmandade e rede de contato é real. Elas estão entendendo a ciência, estão conduzindo negócios, estão realmente tendo sucesso juntas. Eu sei que vamos ver mais e mais disso nos próximos anos.
ELLE: É uma questão de empoderamento da mulher, liderada por mulheres para mulheres: a Diretora Geral da Guerlain, Veronique Courtois, a Diretora Geral da UNESCO, Audrey Azoulay, estas 12 estagiárias, você e as abelhas.
A.J: Nós precisamos disso! Nós precisamos umas das outras, nós realmente precisamos. Quanto mais velha fico, mais sinto que nos conectamos de maneira diferente como mulheres em diferentes estágios de nossa vida. E acho que nos aproximamos ainda mais à medida que envelhecemos, pois passamos por coisas diferentes. Eu posso ir a qualquer lugar do mundo, e posso olhar para outra mulher e nós apenas teremos um entendimento, nossas vidas podem ser muito diferentes e pode haver muita coisa que eu não entendo ou não consigo entender, mas há um entendimento compartilhado de ser uma mulher. Há uma conexão e um entendimento tácito uma pela outra de que devemos realmente fazer mais e mais para avançar, porque quando funciona, é extraordinário. Quando estamos juntas, somos uma força.
ELLE: Há quanto tempo você trabalha nessa iniciativa "Mulheres pelas abelhas" no Camboja?
A.J: Meu projeto no Camboja existe há 18 anos e por isso estamos protegendo o meio ambiente lá há quase duas décadas, trabalhando com a comunidade local, porque tudo anda de mãos dadas. Também transformamos muitos dos caçadores furtivos em patrulheiros, dando a eles trabalhos diferentes para proteger em vez de caçar. E então, alguns anos atrás, começamos a trabalhar com abelhas e abelhas para a comunidade. Estamos sempre trabalhando em coisas diferentes juntos e encontrando caminhos diferentes. Foi nessa época também que a Guerlain veio comigo para fazer uma de nossas filmagens no Camboja (ela trouxe a Guerlain para o Camboja em 2019 para filmar o comercial mais recente de Mon Guerlain). A Guerlain e a UNESCO têm uma longa história de trabalho com abelhas, através de vários projetos.
A.J: À primeira vista, parece que sim. Mas se você conectar a indústria de fragrâncias, as flores e as abelhas e a importância de tudo isso, poderá ver onde há uma conexão. A Guerlain está consciente de sua origem e consciente de como as abelhas se relacionam com suas próprias necessidades, mas também ciente de todo o ciclo. Abordamos isso como três entidades diferentes (incluindo MJP) com diferentes experiências com abelhas. A Guerlain está empenhada em ajudar no trabalho que a UNESCO está fazendo. Agora, trabalhando ao lado deles, podemos difundir o trabalho e o treinamento para mulheres de todo o mundo.
ELLE: Como foi seu primeiro encontro com essas mulheres apicultoras?
A.J: Elas foram maravilhosas. Fiquei mais emocionada do que esperava, porque não era apenas porque elas tinham algumas aulas legais e recebiam um certificado. Elas estavam trabalhando tanto, suando e aprendendo. Elas são muito impressionantes. Algumas delas mudaram o que estavam fazendo em suas vidas... você sabe, aquelas coisas diferentes que fazem uma mulher parar para poder ter algumas semanas disponíveis, para ter algum treinamento!
ELLE: Este programa começou com 8 jovens no ano passado na França e 12 este ano no Camboja. Quem são elas?
A.J: Elas têm origens diferentes, mas têm o mesmo compromisso, como mulheres profissionais muito sérias, entendendo o trabalho duro, a gestão, a ciência, o cuidado, o trabalho de campo prático e o quão impressionantes e dedicadas todas elas são. Vê-las começar a trabalhar juntas foi tão especial. Imagino até mesmo a experiência que elas podem compartilhar e o aprendizado uma sobre a outra. Percebi que uma mulher da França ficou tão surpresa com as abelhas no Camboja.
ELLE: As abelhas são diferentes?
A.J: As abelhas e as colmeias são diferentes. Eu não sabia até ver. E então você começa a aprender sobre as diferentes espécies, por que elas são tão importantes, como elas são geradas... e então você está trabalhando também com a comunidade para encontrar formas alternativas de obter fundos ou maneiras de cultivar, para que você possa ajudar. O problema é que muitas pessoas que estão causando o dano não querem fazer isso! Elas simplesmente não têm as necessidades básicas e o treinamento que poderiam ter. Dentro da nossa fundação existem os rangers (guardas), jovens que são “guardas ambientais”. Eles também participaram de um programa de apicultura, treinando junto com as mulheres. Elas estavam ensinando sobre as abelhas, então foi ótimo ver a transferência de conhecimento para a geração mais jovem de meninos e meninas. Claro que estamos focados nas mulheres, mas sabemos que as mulheres vão treinar os homens. Há um homem cambojano que dirige minha fundação no Camboja e ele é extraordinário e é ele quem ajuda a trabalhar com todas as mulheres também, sim, é claro que se expande além das mulheres, mas as colocamos no centro.
ELLE: Hoje, cerca de 75% de todas as plantas cultivadas e 90% das plantas com flores silvestres dependem de polinizadores, incluindo abelhas. Você acredita que as pessoas percebem o quão preciosa é a sobrevivência das abelhas para nossa própria sobrevivência?
A.J: Todos nós sabemos no fundo de nossas mentes, como é importante ter florestas, ambientes, habitats naturais. Todos conhecemos os perigos das alterações climáticas. Acho que às vezes ficamos tão sobrecarregados com isso que congelamos. Estamos tristes com isso, mas não sabemos o que podemos fazer para impedir. É muito importante procurarmos maneiras muito específicas e práticas de fazermos mudanças juntos e tentarmos crescer conscientemente - porque há muito o que aprender.
ELLE: Educando mais e mais pessoas?
A.J: Algo como as abelhas e os polinizadores, há muito que podemos fazer, e é emocionante poder compartilhar isso com as pessoas. Existem alguns problemas no mundo que estão além do gerenciamento, mas com algo assim, até crianças pequenas podem ajudar a plantar as sementes certas para as flores certas ou até mesmo ter pequenas colmeias. Em áreas urbanas, você pode tê-la no topo do seu prédio, no telhado, em qualquer lugar!
ELLE: No ano passado, você fez uma sessão de fotos com Dan Winters para a National Geographic para o "Beeday" que acontece todos os anos em 20 de maio. Resultou em um retrato seu coberta por abelhas, para aumentar a conscientização sobre o desaparecimento das especies. Você estava com medo? Você tem boas lembranças disso?
A.J: Sim. Não tenho medo de abelhas. Na verdade, foi como uma meditação porque você tem que ficar tão quieta, e eu não fico quieta facilmente! Há um zumbido, há esse zumbido que me lembrou os monges cantando no Camboja. Eles zumbem tão alto, então você está cercado por esse som e precisa apenas respirar! De certa forma, isso força você a entrar em seu corpo como um ser. Meus filhos também estavam por perto. Eles não fizeram exatamente o que eu fiz, mas Shiloh e Vivienne tinham abelhas nelas e ao redor delas.
ELLE: Você teve que fazer algo específico para se preparar para as filmagens?
A.J: Não pudemos tomar banho por três dias (risos). Nos disseram que você não pode usar nenhum perfume, nenhum produto ou loção. As abelhas podem picar você se estiverem confusas sobre o que você é. Se elas podem cheirar seu odor e sua essência, então você é outro ser. Isso os ajuda a se fixar em você, como se estivessem se fixando em outro animal. Mas se você tiver todos esses outros perfumes, elas ficarão confusas, o que é engraçado, porque é claro que a Guerlain vende perfume, mas você não deveria ter nenhum quando tem abelhas perto de você. Então, todos nós estávamos bastante sujos e sem maquiagem. Foi bem legal. Foi um momento que você não costuma ter, apenas sentar lá, estar presente e deixar essa outra criatura explorar você. Eu gosto desse retrato mais do que qualquer retrato meu já feito, porque parecia muito humano e agradável.
ELLE: Você praticou ioga antes para controlar sua respiração?
A.J: Eu sou terrível em qualquer coisa desse tipo. Eu nunca faço ioga, não consigo meditar. Eu tinha uma abelha debaixo da minha saia e, honestamente, eu estava passando a maior parte do tempo pensando se aquela abelha me picar naquele lugar, seria impossível para mim ficar parada. Eu tentei não surtar, porque eles disseram que a parte difícil é se você for picado e reagir, então o resto delas pode começar a picar! Eu estava muito consciente dessa abelha, mas eventualmente nós duas conseguimos juntas!
O programa de cinco anos, "Mulheres pelas abelhas" faz parte de uma parceria entre a UNESCO (MAB-Man and the Biosphere) e a Guerlain, além da LVMH em um sentido mais amplo. Tem dois objetivos: proteger as abelhas nas biosferas e incentivar as mulheres a serem empreendedoras, capacitando-as em apicultura.
Até 2025, 2.500 colmeias terão sido construídas em 25 reservas da biosfera da UNESCO e 125 milhões de abelhas estarão polinizando alegremente. 50 apicultoras serão certificadas, treinadas e apoiadas para montar suas próprias fazendas de abelhas, enquanto participam de um projeto vital e socialmente benéfico, local e globalmente, tornando-se membros de uma comunidade maior.
O compromisso com o empoderamento das mulheres por meio do programa "Mulheres pelas Abelhas" continuará em 2022 com a capacitação de mulheres apicultoras em Ruanda e Etiópia, seguidas pela Província de Yunnan na China em 2023 e na Amazônia.