Angelina Jolie concede entrevista para a revista francesa Madame Fígaro

Por: Richard Gianorio

No último Festival de Cannes, ela foi madrinha do prestigiado Troféu Chopard. Uma oportunidade para um encontro exclusivo com uma heroína fora do comum.

Cannes, 17 de maio de 2025. O festival de cinema está a todo vapor, e na véspera Angelina Jolie entregou o prestigiado Troféu Chopard a duas promessas em ascensão: a francesa Marie Colomb e o britânico Finn Bennett. A superestrela americana não parece muito à vontade sob o olhar de milhares de pessoas, mas cumpre sua missão com o entusiasmo e o profissionalismo que seu status exige. Ela é encontrada no sétimo andar do Hotel Martinez, nos elegantes salões da Chopard — a renomada joalheria e relojoaria suíça, parceira fiel do festival e defensora incansável do cinema. Ela veste um conjunto creme discreto ("Não estou na moda", brinca) e ouve atentamente as perguntas que lhe são feitas.

O que mais impressiona em Angelina Jolie são seus gestos lentos, seu olhar acolhedor, que fixa o interlocutor, sua voz suave e sua fala extremamente pausada. O rosto da dignidade. Há nela uma gravidade, uma vibração dolorosa perceptível, característica totalmente atípica no star system, especialmente o hollywoodiano, no qual até os iniciantes adotam uma postura invulnerável e conquistadora. Mas o star system nunca foi, e provavelmente jamais será, sua prioridade. Há muito tempo o cinema deixou de ser suficiente para preencher a vida de Angelina, superestrela e diretora que dedica a maior parte de seu tempo a atividades como militante dos direitos humanos. Angelina é uma personalidade fora do comum, que parece ter escolhido o sacerdócio humanitário, levando-a incansavelmente a zonas de guerra.

Ela se define como "humanista, mas sobretudo internacionalista". Cidadã do mundo, sem dúvida. Angelina Jolie intriga, fascina e talvez desconcerte, mas ninguém pode questionar a sinceridade e a constância de seus compromissos. Mulher de ação, ela inspeciona campos de refugiados, discursa em Davos e interpela instituições internacionais. Ativista eminente, valoriza a economia local e incentiva a autonomia das mulheres em regiões desfavorecidas. No Camboja, seu país do coração, onde ela reside parcialmente e está sediada sua fundação, a Maddox Foundation, que também atua na preservação ambiental e na melhoria das condições de vida das comunidades rurais, por exemplo, foram instaladas colmeias.

No cinema, ela atua pouco e parece se voltar para projetos singulares. Após Maria, do autoralíssimo Pablo Larraín, ela se aventura em um filme francês de Alice Winocour, chamado Coutures, com estreia marcada para 15 de outubro. Nele, ela interpreta uma diretora de cinema mergulhada no mundo da moda durante uma filmagem publicitária em Paris, cujos fundamentos de vida serão abalados por um episódio dramático. Ela contracena com Ella Rumpf, uma maquiadora que sonha em ser romancista, e com Louis Garrel, seu assistente e amante de uma noite.

Madame Figaro: O que a convenceu a aceitar ser madrinha do Troféu Chopard, que todos os anos celebra um ator e uma atriz de talento promissor?

Angelina Jolie: Gosto da ideia de um programa como esse, que busca incentivar, apoiar e acompanhar os jovens. É uma das belas facetas do Festival de Cannes, e estou muito feliz por participar deste ano. Conversei com os dois laureados, que me pareceram brilhantes e totalmente dedicados à sua arte. São equilibrados, centrados e conscientes de todos os aspectos da profissão. Além disso, também sou diretora, então é muito interessante para mim descobrir, com a Chopard, quem compõe a nova guarda do cinema, ou seja, os atores de amanhã.

Você é um modelo para os jovens atores?

É difícil responder a essa pergunta. Quando eu tinha a idade deles, nem passava pela minha cabeça que um dia eu poderia ser uma inspiração para alguém. Se hoje sou, não é apenas pelo que fiz de bom, mas também pelos meus erros.

Erros?

Não exatamente erros, mas sim a vida e suas oscilações. O importante é que sou feliz por levar uma vida de artista. No entanto, nunca tomei nada como garantido, especialmente a vida pública e a fama. Sou uma pessoa extremamente reservada. Quando piso em um tapete vermelho com meus filhos, a ideia é realmente nos divertirmos juntos. A arte deve ser uma fonte de alegria.

Como distinguir entre vida pública e vida privada quando tudo parece tão embaralhado hoje em dia?

Como não tenho interesse em ser famosa, é muito fácil para mim separar os territórios. Os piores momentos da minha trajetória foram justamente quando a fama e seus excessos invadiram a minha vida. Nada poderia ser menos natural. O que eu amo é a arte, o engajamento, os filmes, as trocas. É muito estimulante me mover por um projeto artístico e compartilhá-lo com uma equipe, quando todos olham na mesma direção. Mas tudo o que diz respeito à fama não apenas não me interesse, como também é muito incômodo.

Como conciliar todos esses estados contraditórios?

Faço o que posso. Venho de outra geração, em que era possível fazer um filme, sumir por um ano e voltar. Nesse intervalo, era mais ou menos permitido viver a vida pessoalmente. Hoje, não está mais na moda desaparecer sem dar notícias. Tudo está entrelaçado e o espírito da época, representado pelas redes sociais, exige que você comente qualquer atividade da sua agenda. Se eu estivesse começando hoje, não conseguiria me adaptar. Me achariam reservada demais e eu seria rotulada como "não rentável". Sou muito irregular para as redes sociais e não me sinto confortável com a comunicação contínua.

Que tipo de mulher você era na idade dos laureados do Troféu Chopard?

Eu já era mãe. Tinha adotado meu filho Maddox e trabalhava em missões das Nações Unidas. Já havia iniciado a transição para outra vida.

Que conselho você daria a um jovem ator ou atriz?

Coloque a arte no centro de suas preocupações. Não tenha vergonha de se integrar à comunidade artística. Troque experiências. Compartilhe.

Aos 20 anos, quais atrizes a inspiravam?

Curiosamente, os meus modelos eram homens. Alan Bates e Marlon Brando, por exemplo. Claro que eu gostava da Meryl Streep, como todo mundo, mas eu não era cinéfila naquela época. Talvez porque meu pai (Jon Voight) fosse ator? Já havia filmes demais na minha vida... Eu percebia claramente que tudo aquilo não era real. O que me interessava nos atores não eram os personagens, mas suas personalidades. E não mudei muito de ideia: ainda prefiro artistas singulares a pessoas famosas.

Você cresceu no meio hollywoodiano...

Sim, é algo um pouco estranho, provavelmente. Minha madrinha é Jacqueline Bisset, e meu padrinho, Maximilian Schell. Mas foi principalmente com minha mãe, Marcheline Bertrand (falecida aos 56 anos em 2007), que aprendi muito. Ela havia sido atriz, não era famosa, mas estudou teatro e continuava apaixonada por ele. Foi com ela que descobri minhas primeiras peças.

Sua mãe interrompeu a carreira quando se casou.

Acho que ela era feliz assim. Como já disse, ela continuou convivendo com pessoas do teatro. Minha filha, Vivienne, se parece muito com ela, embora não tenha conhecido a avó, o que é comovente. Assim como minha mãe fez por mim, apresento textos para Vivienne. Levei-a para assistir a uma peça de Tennessee Williams, grande amigo de minha mãe, e ela ficou encantada. Quando meu pai atuava em "Um Bonde Chamado Desejo", minha mãe, grávida e passando mal, assistia a todas as apresentações, e todas as noites Tennessee se sentava ao seu lado para cuidar dela. Um grande artista...

Sua mãe falava francês...

Ela era canadense e francesa. Talvez seja por isso que eu tenha uma ligação tão especial com a França. Acabei de filmar Coutures, um longa de Alice Winocour, e tenho algumas cenas em francês... Você vai ver.

Desde Maria, em que você interpreta Maria Callas, sua carreira parece seguir um rumo mais autoral.

Gostei muito de trabalhar com Pablo Larraín. O roteiro é brilhante. Hoje, me agrada colocar meu trabalho a serviço de grandes artistas. Tenho vontade de me afastar do que já fiz. Além disso, há algo de muito novo na maneira como escolho os projetos: como os filmes ocupam alguns meses da vida, quero ter certeza de que estou entrando em uma comunidade generosa, solidária, criativa e acolhedora. Quero compartilhar experiências com pessoas boas.

Uma última pergunta. O mundo parece estar ficando cada vez mais louco. Você poderia compartilhar seus medos e esperanças?

(Ela respira fundo.) Tento continuar aprendendo e observando. É fundamental se informar e se educar para entender o que está acontecendo no mundo e qual é o seu estado atual. É preciso ter cuidado para não fazer julgamentos precipitados. No meu caso, trabalho com pessoas, leio e assisto a conferências. Meu desejo é que as intenções políticas se transformem em ações, e não permaneçam apenas como promessas. Infelizmente, vemos claramente que a sede de poder, controle e lucro prevalece sobre o que deveria ser um impulso solidário: o desenvolvimento das nações mais pobres. Muitos territórios são fontes de lucro para alguns por causa dos conflitos e da miséria. Tenho muita esperança nas economias locais, pois elas permitem que os habitantes adquiram autonomia e se libertem do sistema dominante. Sei que isso leva tempo, mas é um sistema virtuoso que acompanho de perto, por exemplo, no Camboja, onde a minha fundação, criada em 2003, concentra-se na estabilidade econômica de uma comunidade, bem como em sua saúde e na proteção de seu ambiente. Acredito que esse tipo de iniciativa pode ter um efeito bola de neve, beneficiando as comunidades vizinhas e assim por diante, permitindo que os moradores locais estabeleçam e prosperem em suas próprias redes.

Fonte: Madame Figaro

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