Angelina Jolie é convidada para ser madrinha de time de futebol




No mundo da bola, o Brasil é reconhecido como país do futebol. Para jogadores estrangeiros que fugiram ou foram forçados a deixar a terra natal, uma vaga em clube brasileiro é a chance de transformar o pesadelo em sonho de fazer uma brilhante carreira internacional. Com histórias de três cantos diferentes do planeta na luta por um lugar para viver em paz, um trio de jovens refugiados internacionais encontra abrigo no emergente Brazsat, campeão da terceira divisão candanga de 2008.

O serra-leonense Solomon Kallon, de 20 anos, e o colombiano Fernando Herrera, de 15, chegaram na semana passada para fazer companhia ao palestino Ali Khaled, de 19 anos. No clube-empresa desde 2008, o atacante reserva criado no Iraque e na Jordânia participou da conquista do ano passado. “Meu sonho no Brazsat é me transformar em um grande jogador e ir para a Europa”, confidencia o meia-atacante africano, com o mesmo sobrenome, mas nenhum parentesco com o famoso atacante compatriota Mohammed Kallon, ex-Internazionale de Milão (Itália) e Monaco, atualmente no Al Shabab, dos Emirados Árabes.

Nascido no país de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) medido pela Organização das Nações Unidas (ONU), Solomon decidiu fugir de Serra Leoa, na costa leste da África, no ano passado, logo depois de perder a mãe doente. O pai já havia morrido na guerra civil (1992-2002), mais conhecida graças ao filme de ação Diamante de sangue, com Leonardo Di Caprio. Clandestino, o meia-atacante tentou ir para a Europa, mas o navio parou em Santos, em setembro de 2008. “Não fui na direção errada. Estou feliz de vir para o Brasil. Vou aprender a jogar futebol aqui”, dispara ele, ainda em inglês — de português, aprendeu poucas palavras no refúgio em São Paulo.

Já o adolescente sul-americano Fernando Herrera chegou há cinco anos ao Brasil com a família, depois de passarem pela Costa Rica como refugiados. Com os pais em São Leopoldo (RS), com quem ele mantém contato diário pela internet, o garoto não sabe contar os motivos da fuga da Colômbia — oficialmente, é considerado vítima do conflito interno. De português fluente, o atacante decidiu sair de casa no Sul para arriscar a carreira depois de passar por várias escolinhas. “Me considero brasileiro. Já me adaptei muito bem”, revela.

Os dois reforços estrangeiros vivem em um hotel no Núcleo Bandeirante. O plano é levá-los em breve para uma casa que servirá como alojamento para o time, na mesma cidade. O Brazsat é um dos favoritos ao acesso para a elite candanga de 2010 na briga de oito times por duas vagas, de 16 de agosto a 25 de outubro na segundona local. Até pela idade, Herrera deve fazer parte inicialmente do time sub-18.

A participação pioneira do palestino Ali, o primeiro jogador árabe a atuar no Brasil, rendeu ao Brazsat uma parceria com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). A tabelinha dá direito a nome estampado na camisa do clube candango. “Se eles não tivessem um nível mínimo não estariam aqui. Como ninguém é perfeito, eles precisam melhorar”, afirma o técnico Alex Gomes.

Como clube que abriga estrangeiros em situações dramáticas, o Brazsat busca se tornar conhecido no mercado internacional. “Querendo ou não é a única equipe do mundo que tem três refugiados. Vai ter uma fila de patrocinadores”, aposta o presidente João Vaz, empresário do ramo de satélites, da empresa de mesmo nome do clube. Até agora, além da ONU, a multinacional Nike já mostrou interesse como fornecedora do uniforme. O grupo holandês Amsterdam Arena é outro parceiro do clube-empresa candango.

Angelina Jolie

Nos planos internacionais ambiciosos do Brazsat, um dos próximos passos é transformar em sua madrinha a estrela norte-americana e símbolo sexual Angelina Jolie, dos filmes A troca e Sr. & Sra. Smith, esposa do ator Brad Pitt. “Ela já foi convidada. A chance de aceitar é muito grande porque é embaixadora da ONU para refugiados”, acredita João Vaz.

A colaboração oficial com o programa das Nações Unidas seria celebrada oficialmente ontem à noite, com direito a lançamento do documentário de cinema Fairplay, Brazil the real land of football. O filme, dirigido pela dupla Eduardo François e Ivan Canabrava, conta a história de Ali e Solomon. O Brazsat também apresentaria o projeto do bar temático Brazilian Football Café e a parceria com Amsterdam Arena, um dos consórcios candidatos a fazer a reforma do Mané Garrincha para a Copa de 2014.

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