Entrevista completa de Angelina Jolie para a Vanity Fair Italiana


Por: PAOLA Jacobbi

O casal mais famoso do cinema fez um filme sobre crise no casamento. O típico projeto de louco, como eles chamam, gravado logo após o casamento em sua lua de mel. Angelina Jolie diz que cinema é montar uma boa família, que dirigir seu marido Brad Pitt foi doloroso e catártico e porque ela, aos 40 anos, se sente feliz por estar viva.

Ela aperta a ponta de seu cardigan, e se enrola nele como em um cobertor, ela parece tímida e recatada. Nem sequer olha como a boa e velha Angelina, sempre tão poderosa e gloriosa com sua beleza de estrela de cinema e sua pessoa pública. Desta vez é como estar olhando para uma diretora em sua estreia, que diz (literalmente), até você pode julgar se eu sou capaz ou não, e eu acho que é um filme de gosto europeu, mas você que é europeia vai dizer se eu estiver errada. O filme By The Sea, é o terceiro longa dirigido por Angelina, mas o primeiro em que ela estrela (Na Terra de Amor e Ódio e Invencível ela apenas dirigiu), e também é o primeiro filme desde Sr. & Sra. Smith, no qual ela e Brad Pitt atuam juntos. Mas acima de tudo, diferente do anterior, esse é um filme muito pessoal, ao ler essa entrevista você vai entender o porquê.

Filmado em Gozo (Malta), embora a história se passa no sul da França, em uma pequena baía no mar Mediterrâneo, À Beira Mar segue a vida de Vanessa e Roland Bertrand (sobrenome da mãe de Angelina, Marcheline, que morreu em 2007, aos 56 anos depois de uma longa luta contra o câncer), um casal de Nova York, casados a 14 anos e, obviamente, em crise. Ele é um escritor que dedica a maior parte do seu tempo bebendo do que escrevendo, ela é uma ex-bailarina que se aposentou dos palcos e se enche de remédios para sufocar a depressão.

As razões para essa dor e a relação conflituosa entre marido e mulher será revelado lentamente ao longo do filme, com toques de suspense a lá Hitchcock. Roland e Vanessa se amam e se odeiam, eles se aproximam e se afastam, usando um casal de jovem desconhecidos (os atores Mélanie Laurent e Melvil Poupaud) que estão em sua lua de mel no mesmo lugar, como se fosse um espelho distorcido do que está acontecendo com eles. Brad Pitt diz: Eles se lembram, especialmente Vanessa, interpretada por Angie, o que era e o que não é mais.

Tudo isso acontece em meados dos anos setenta, um tempo de experimentações e revoluções  sexuais, e no filme vemos muitos temas, desde fantasias eróticas sobre um tipo de casal incompreendido que Francesco De Gregori definiu, confundir os seus álibis com outros motivos.

Embalado com a ajuda de um grande diretor de fotografia europeu, Christian Berger (colaborador de longa data de Michael Haneke), o filme é uma história de amor para adultos, que não é inspirado em qualquer filme em particular, mas, como foi explicado por Brad Pitt, que também é co-produtor, o filme é muito inspirada no casal John Cassavetes e Gena Rowlands (diretor e atriz, nesse caso), porque foi ótimo tentar fazer nós mesmos, algo com grande sinceridade, livre da dinâmica restrita dos estúdios.

Há uma cena recorrente no filme: Vanessa deixa sempre seus óculos de sol com a lente para baixo, Roland os vira de volta para cima. É uma metáfora, diz Brad. Isso significa que ele está lutando para salvar o casamento, dos seus proprios problemas. Mas a inspiração veio de um detalhe real de nossas vidas em comum: Angie sempre deixa seus óculos assim e eu gasto meu tempo endireitando-os.

Um filme sobre a crise de um casal produzido pelo casal mais famoso do cinema mundial. Você não tem medo que as pessoas vão pensar que você está abrindo a porta de sua vida real através do filme?

Temíamos. Discutimos entre nós e com alguns amigos. Mas então decidimos ir em frente assim mesmo. Eu não me importo que as pessoas possam pensar, que conclusões podem chegar. Aquilo visto no filme certamente não são nossos problemas. Se fossem, seria impossível colocar em cena.

Mas o que significa para você essa experiência? Em particular, como tem sido dirigir seu marido?

Bonita, mas difícil. Fomos pioneiros sobre uma nova maneira de nos comunicarmos entre nós, respeitando as nossas sensibilidades diferentes. Brad sabia que ele estava interpretando algo que eu "sua esposa" escrevi. Foi uma troca de confiança mútua, um ato de amor, como artistas e como pessoas.

Quando você escreveu o filme?

Muitos anos atrás. Novamente, como uma experiência, só para mim. Eu não tinha ideia de que um dia ele se tornaria um filme real. Você escreve uma coisa muito diferente quando você não sabe se ele será publicado. Você está mais livre. Eu queria escrever sobre a relação de cada mulher com seu próprio corpo, o medo que temos de não ter controle. Quando escrevi isso, eu estava muito longe de enfrentar meus problemas de saúde. Mas, certamente, eu pensei muito sobre minha mãe, as dificuldades e a dor que ela haviam passado. Mas então eu coloquei em uma gaveta e ele permaneceu lá por um longo tempo. Sempre que eu e Brad, dissemos que queríamos fazer um filme juntos, consideramos uma série de outros projetos e, em seguida, finalmente dissemos: Ah sim, eu faria o mesmo. Isso é um projeto louco. E realmente foi: nós fomos para filmar este filme imediatamente depois de nos casar. Uma escolha estranha para a lua de mel.

Quando seus problemas de saúde apareceram, como você se sentiu, neste curto-circuito entre a ficção e a vida real?

Eu estava editando o filme quando recebi um telefonema do meu medico me dizendo que eu tinha altos riscos de desenvolver câncer e que eu tinha um pequeno tumor benigno. No final foi emocional e doloroso ao mesmo tempo. Eu também disse que, talvez, em algum lugar, inconscientemente, eu senti que tinha que fazer algum tipo de ensaio na vida, mais cedo ou mais tarde.

Porque os anos setenta?

Porque ele têm sido extraordinariamente livre e criativo, em muitas áreas, da política à arte. No cinema, houve espaço para trabalhos que também foram falhos, fora de esquema. Eu não sinto a necessidade de me adaptar a todo o custo para supostar os reais gosto do público, como é o caso hoje em dia, mesmo nos muitos filmes que eu atuei. Hoje, tudo é muito mais elegante, você faz antes uma analise para descobrir o que as pessoas pensam de uma ou outra cena. Em um contexto bem controlado, é também mais difícil interpretar personagens mais complexos, multi-dimensionais. Eu realmente queria fazer isso: de uma maneira tão pura, autêntica, sem condicionamento.

A última vez que nos encontramos, você me disse que iria se concentrar cada vez mais em dirigir e cada vez menos na atuação. Parece que, pelo menos em parte, você está fazendo isso. Que tipo de diretora é você?

Uma estudante, eu ainda estou aprendendo.

Para você, como deve ser um bom diretor?

Eu não sou uma grande fã de definição militarista, com os diretores comandantes e soberanos. Para mim, a coisa mais importante é montar uma boa família em conjunto, onde todos são incentivados a dar o seu melhor e cooperar.

O próximo filme?

Estou prestes a começar a filmar no Camboja. Desta vez, o filme é baseado em um livro, uma história verdadeira. É chamado First They Killed My Father: a Daughter of Cambodia Remembers. Maddox, meu filho mais velho, que é cambojano, será o meu co-produtor. Ele me disse, que quer saber mais de seu país de origem.

Seu co-produtor? Mas ele tem 14 anos!

Ele já foi meu assistente em Malta, no set de By The Sea. Ele é bom!

E os outros já têm alguma vocação para esse trabalho?

Me parece que nenhum deles quer ser um ator, o que eu acho muito bom. Mas eles tem a pintura, futebol, escrita ... Eles vão encontrar o seu caminho.

Falando de crianças, na Itália, existe muita discussão sobre a educação de gênero. Sua filha Shiloh se veste como um garoto, você acha que tem uma definição na forma diferente a educação de homens e mulheres entre os seus filhos?

Cada um dos meus filhos é uma pessoa, o gênero não importa. Eu não faço diferenças, eu os incentivo a ser justo e fazer o que os deixa feliz. Então Shiloh é Shiloh e se veste como gosta.

Se você pudesse desviar a atenção da mídia de sua vida privada para um assunto sensível, o que você escolheria?
A questão com o qual eu lido por muito anos: os refugiados. Mas eu gostaria que não fosse sempre um assunto que dura um dia e, em seguida, muda para outro.

No verão passado, o mundo ficou chocado ao ver a foto de uma criança refugiada, que morreu na praia em Bodrum na Turquia. Qual você acha que é, nestes casos, o comportamento mais adequado? Mostrar ou evitar essa exposição da dor e do sofrimento?

Basicamente, eu não sou o tipo certo de pessoa que diz "me poupe das imagens brutais", mas eu entendo ambas as posições relatada. O verdadeiro problema, porém, é outro: há 60 milhões de refugiados em todo o mundo, 60 milhões de pessoas que não vivem onde gostariam de viver, porque eles não podem, porque eles estão fugindo da fome e da guerra. Quando comecei a gravar By The Sea, eu acompanhei as atividades da marinha maltesa, que conseguiu salvar muitas crianças e adultos em fuga. A recepção da Europa criou problemas que nós sabemos, mas esta crise é apenas um dos efeitos de um problema muito maior. Devemos buscar soluções para o nível internacional, as leis de combate ao crime contra civis em países em guerra, e discutir a sério sobre liderança política.

Em Junho você fez quarenta anos. Como se sente?

Muito feliz por estar viva, amar e ser amada. Obrigado.

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