Novo filme de Angelina Jolie e David Oyelowo esta sendo alvo de preconceito racial

No que se refere a Hollywood, "grupos de votação em massa" - que também pode ser referida como "fraude de votos", "antipatias" e "bombardeio de críticas", entre outros apelidos - é a prática de aumentar as classificações e comentários gerados pelos usuários para influenciar a percepção de um filme, série de televisão ou outros conteúdos. Na maior parte da última década, a prática impactou projetos de Hollywood, incluindo filmes da Marvel, vencedores do Oscar e filmes independentes.

“O que você mais teme como cineasta é que qualquer tipo de negatividade se acumule em torno do seu filme”, explica David Oyelowo, que estrelou e produziu Come Away, um longa-metragem que foi submetido a tais esforços online por parte dos internautas. “Em uma época em que há tanto conteúdo para ser acompanhado, só é preciso olhar a classificação no IMDb ou em um trailer para, inconscientemente, tomar uma decisão quanto a se você vai se envolver com esse conteúdo ou não.”

Avaliações geradas por usuários em sites como YouTube, IMDb e Rotten Tomatoes há muito tempo são usadas como arma para diminuir as possíveis percepções e o interesse das pessoas em projetos futuros. O remake de O Caça-Fantasmas de 2016, estrelado por mulheres, foi alvo de uma campanha que, na época, o tornou a mais "rejeitado" da história do site. Muitos filmes, incluindo o documentário de James Baldwin "I Am Not Your Negro" e o longa-metragem da Marvel, Captain Marvel, têm sido o foco de campanhas online bem direcionadas. Não coincidentemente, muitos dos filmes que foram atacados no passado, abordam temas de raça ou gênero, ou foram protagonizados por mulheres ou com um elenco de pessoas não brancas.

Para Oyelowo, Come Away não é o primeiro de seus filmes a passar por esse assédio. Ele viu uma reação online semelhante ao seu longa-metragem A United Kingdom de 2016, onde interpreta o príncipe Seretse Khama, que se apaixona e se casa com Ruth Williams, uma mulher branca britânica, interpretada por Rosamund Pike. “Tivemos um discurso tão grande e um influxo de comentários negativos raciais que o Fox Searchlight teve que tirar nossa página do Facebook do ar”, lembra Oyelowo.

“Isso tem sido algo que tenho experimentado em minha carreira, regularmente, ser uma pessoa negra que tende a gravitar em torno de conteúdos aspiracionais. Parece que essas pessoas acham isso o mais deplorável ”, diz ele.

Tradicionalmente, o sistema de classificação da IMDb, que é medido por uma a dez estrelas, torna-se disponível para os usuários, depois que um título é mostrado publicamente por pelo menos uma vez. Enquanto Come Away só chegará aos cinemas e para locações em vídeo on demand a partir de 13 de novembro, as classificações foram disponibilizadas mais cedo porque o filme estreou no Festival de Cinema de Sundance de 2020 em janeiro. Embora as avaliações dos usuários estivessem disponíveis por meses, os cineastas notaram uma mudança na pontuação do IMDb, logo após o lançamento do trailer em 9 de outubro, devido ao fato do estúdio Relativity Media ter adquirido os direitos de lançamento nos EUA no inicio deste mês.

“Para um filme que ainda não foi lançado - as classificações devem ser baseadas nas pessoas que assistem aos filmes - ficou claro que havia algo sobre o tom e a natureza do filme que estava incomodando certas pessoas”, diz Oyelowo. “Uma das primeiras coisas que fiz foi alertar o IMDb porque eu sei que teve um efeito negativo em meu filme anterior "A United Kingdom" há cinco anos.” As avaliações dos usuários para o filme foram retiradas momentaneamente.

Come Away, dirigido por Brenda Chapman, é um prequel dos clássicos de fantasia Alice no País das Maravilhas e Peter Pan. Oyelowo e Angelina Jolie interpretam os pais de Alice (Keira Chansa) e Peter (Jordan A. Nash), que usam sua imaginação para superar uma difícil tragédia familiar.

Muitos dos comentários dos usuários no trailer se concentraram no fato de que os personagens de Alice e Peter estavam sendo retratados por atores infantis não brancos. “De forma alguma o filme não tem raízes em raça. Acontece que é uma família do tipo que existia e poderia ter existido historicamente naquela época da história britânica, mas não a norma do que você está acostumado a ver ”, observa Oyelowo. “Percebemos que tínhamos uma situação semelhante em nossas mãos, assim como o pessoal da Disney enfrentou depois de escolher para o elenco o ator John Boyega para interpretar um Stormtrooper em Star Wars ou Halle Bailey quando foi escolhida para ser Ariel em A Pequena Sereia.”

No momento de seu anúncio em julho de 2019, a escolha de Bailey como protagonista da adaptação live-action da animação da Disney de 1989 provocou uma reação racista online com indivíduos argumentando que a sereia no centro do conto de fadas de Hans Christian Anderson e o a animação era branca. Quanto a Boyega, internautas argumentaram que Stormtroopers não podiam ser negros e iniciaram uma hashtag pedindo um boicote ao diretor J.J. Abrams.

Em fevereiro de 2019, o agregador de criticas do Rotten Tomatoes anunciou que removeria sua pontuação "Want to See" - uma porcentagem gerada pelo usuário destinada a medir o interesse do público em um título - que havia sido direcionada no passado durante os períodos de pré-lançamento do filme. Também em fevereiro de 2019, o diretor de gerenciamento de projetos do YouTube, Tom Leung, em uma série de vídeos corporativos, observou que a equipe de desenvolvimento de produtos havia começado discussões sobre como combater "multidões de antipatia", observando que uma opção seria acabar com a função dislike. (No vídeo, Leung estava abordando o problema no que se refere aos próprios criadores de conteúdo do site, em oposição a trailers de filmes.)

Na seção de comentários das páginas do YouTube que hospedam o trailer de Come Away (existem várias), os usuários reclamam que “dislike” estão desaparecendo ou não são contabilizados. Não está claro se este é o caso ou se o YouTube e seu algoritmo estão eliminando os votos possíveis de uma campanha direcionada. O YouTube não respondeu ao pedido de comentário do THR.

Por sua vez, a IMDb da Amazon, que possui mais de 250 milhões de visitantes únicos mensais em todo o mundo, afirma que a avaliação de seu usuário não é um agregado da média de todas as avaliações, mas uma “média ponderada” que usa, de acordo com a pagina de perguntas frequentes do site, “vários filtros” são aplicados para reduzir ocorrências como fraudes de votos e possíveis grupos de votação em massa. IMDb não revela os filtros ou como o algoritmo identifica e combate classificações possivelmente malignas, portanto, o sistema não pode ser influenciado. IMDb não respondeu ao pedido de comentário do THR.

“Todo mundo que assiste a um filme ou programa traz sua própria história e gostos pessoais, que influenciam a forma como o usuário vota em um título. Só porque muitos críticos ou outros usuários do IMDb gostaram de um determinado título, não significa que todos se sentiram da mesma forma ”, diz a seção de perguntas frequentes abordando as preocupações sobre possíveis avaliações falsas de avaliações. Fora do sistema de classificação, em 2017, a empresa desativou seus painéis de mensagens, alegando que a função não proporcionava mais "uma experiência positiva e útil", de acordo com um comunicado do site da empresa. “Eles não podem dizer:‘ É liberdade de expressão. As pessoas deveriam ter permissão para dizer o que querem, 'suas plataformas estão sendo usadas de forma insidiosa, seja para afetar as eleições ou a recepção de conteúdo cultural ”, diz Oyelowo, que espera que os estúdios se tornem mais pró-ativos em sua resposta aos ataques online, de teor racistas, que podem ter um “falso senso de liberdade de ação e avaliação”.

Ele implora: “É um pequeno grupo de pessoas. Você tem que descobrir isso. Somos curadores culturais e podemos construir um mundo em que queremos ver conteúdo desta natureza sendo feitos. ” Ele também espera ver ações das empresas de tecnologia cujas funções do site continuam afetando ativamente o pré-lançamento e a promoção de títulos.

“Acabamos de passar um verão em que todas essas empresas, após o assassinato de George Floyd, sentiram a necessidade, com razão, de emitir declarações sobre suas empresas e como se sentem sobre a injustiça racial, e agora o que farão a respeito disso?”, disse Oyelowo. “Esta é realmente uma das principais áreas que essas empresas de tecnologia podem aprimorar.”

Fonte: THR